sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Falta-nos uma pedagogia da morte, da solidão e do fracasso ...

Ao nascermos, iniciamos uma luta que só termina com a morte. De que serve aprender a conduzir melhor o seu carro quando se está no fim da estrada? Então, já não resta senão pensar em como sair dele. O estudo de um velho, se é que ainda tem algo a estudar, consiste unicamente em aprender a morrer, e é precisamente o que menos se faz na minha idade, em que se pensa em tudo menos nisso. Os velhos estão mais agarrados à vida do que as crianças e saem dela com mais má vontade do que os jovens. É que, como todos os seus trabalhos se destinaram a essa mesma vida, ao chegarem ao fim, vêem que os seus esforços foram inúteis. Todos os seus cuidados, todos os seus bens, todos os frutos das suas laboriosas vigílias, tudo abandonam quando partem. Em vida, não pensaram em adquirir algo que pudessem levar consigo quando morressem.

(Jean-Jacques Rousseau, em 'Os Devaneios do Caminhante Solitário' )

sábado, 25 de dezembro de 2010

O Homem é um animal afetivo ou sentimental, não racional ...

O homem, dizem, é um animal racional. Não sei por que não se disse que é um animal afetivo ou sentimental. E que, talvez, o que o diferencia dos outros animais, seja mais o sentimento do que a razão. Vi mais vezes um gato raciocinar, do que rir ou chorar. Pode ser que chore ou ria por dentro mas, por dentro, talvez também o caranguejo resolva equações de segundo grau. E, assim, o que mais nos deve importar num filósofo é o homem.

(Miguel de Unamuno)

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Protágoras ...

O mundo carece de uma pitada de justiça e de lógica. Não há nada lá fora. A planície das idéias não passa de um deserto estéril e inútil. No fundo era um sofista que tinha razão: o homem é a medida de todas as coisas e disto concluímos que não há grandeza nas coisas - e muito menos no homem.
(eu por eu mesmo)

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Ah! Se soubessem o que eu sei ...

Esses Moços, Pobres Moços

http://www.youtube.com/watch?v=Aicv3wq1xYw

Esses moços pobres moços
Ah! Se soubessem o que eu sei
Não amavam..
Não passavam aquilo que eu já passei
Por meus olhos
Por meus sonhos
Por meu sangue tudo enfim
É que eu peço a esses moços
Que acreditem em mim
Se eles julgam
Que a um lindo futuro
Só o amor nesta vida conduz
Saibam que deixam o céu por ser escuro
E vão ao inferno
A procura de luz
Eu também tive nos meus belos dias
Essa mania que muito me custou
E só as mágoas eu trago hoje em dia
E essas rugas que o amor me deixou!

(Lupicínio Rodrigues)

sábado, 11 de dezembro de 2010

O sentido do mundo não nos é acessível ...

O sentido do mundo deve ser encontrado fora do mundo. No mundo, todas as coisas são como são e produzem-se da forma que se produzem: não existe valor nele - e, caso houvesse algum, este não teria valor.
(Ludwig Wittgenstein, em 'Tratado Lógico-Filosófico)

domingo, 5 de dezembro de 2010

Perguntas ...

Quantas mentiras são necessárias para se produzir uma verdade ?

(eu por eu mesmo)

O objeto do marketing ...

Imbecilidade e consumo ...

(eu por eu mesmo)

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Não há remédio para o nascimento ... A vida é uma doença incurável ...

O Inferno é um refúgio comparado com este desterro no tempo, com esta languidez vazia e prostrada onde nada nos detém a não ser o espetáculo do universo que se caria sob nossos olhos. Que terapêutica empregar contra uma doença de que não nos lembramos mais e cujas conseqüências usurpam nossos dias? Como inventar um remédio para a existência, como concluir esta cura sem fim? E como recuperar-se do nascimento ?
(Emil Cioran)

Sobre o trabalho ...

Não por acaso, a palavra "trabalho" vem de tripalium, que era um instrumento de tortura.

(Fernando Savater)

sábado, 27 de novembro de 2010

Perseverar ou desistir ?

Quem não conheceu a tentação de ser o primeiro na cidade nada compreenderá do jogo político, da vontade de submeter os outros para deles fazer objetos, nem adivinhará os elementos de que é composta a arte do desprezo. A sede de poder - raros são os que não a tenham num grau ou noutro experimentado - é-nos natural, e contudo, se a considerarmos melhor, assume todos os aspectos de um estado mórbido do qual apenas nos curamos por acidente ou então por meio de um amadurecimento interior, parecido com o que se operou em Carlos V quando, ao abdicar em Bruxelas, no topo da sua glória, ensinou ao mundo que o excesso de cansaço podia suscitar cenas tão admiráveis quanto o excesso de coragem. Mas, anomalia ou maravilha, a renúncia - desafio às nossas contantes, à nossa identidade - sobrevém somente em momentos excepcionais, caso limite que satisfaz o filósofo e perturba profundamente o historiador.

( Emil Cioran, em 'História e Utopia' )

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

A máquina do desespero ...

O cérebro é uma máquina que transforma – continuamente – esperança em desespero.

(eu por eu mesmo)

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Cavalinho metafísico ...

Esta história de mulheres! Que pena que não se possa cortar aquilo fora ou ser pelo menos como os animais: minutos de feroz luxúria e meses de gelada castidade. Considere um falcão, por exemplo, pula para a traseira da fêmea, sem sequer se preocupar se ela lhe dá licença ou não. E tão logo tenha terminado, todo assunto já não estará mais na sua mente. Dificilmente até notará as fêmeas ao seu redor, chega mesmo a ignorá-las ou apenas dá-lhes umas bicadas se chegarem muito perto da sua comida. Também não é chamado a sustentar seus rebentos. Falcão de sorte! Quão diferente é o assunto para o rei da criação, sempre a oscilar entre sua memória e sua consciência!

( George Orwell em Mantenha o Sistema )

sábado, 13 de novembro de 2010

Lembre-se: Esta é a parte que lhe cabe deste latifúndio chamado vida ...



Não terás paz na terra, e é tolice acreditar
no repouso eterno. Depois da morte
teu sono será breve: renascerás na erva
que será pisada, ou na flor que murchará.



( Omar Khayyam )

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Para falar a língua dos homens ou dos anjos é preciso dinheiro ...

Todas as relações humanas devem ser compradas com dinheiro. Se você não tem dinheiro, os homens não lhe dão importância e as mulheres não o amam: não chegarão a apreciá-lo e a amá-lo nem sequer pelo mínimo necessário. E como estão certos, afinal de contas! Porque, não tendo dinheiro, você não inspira amor. Embora eu fale as línguas dos homens e dos anjos. Mas acontece que, se não tenho dinheiro, não falo as línguas dos homens e dos anjos.

(George Orwell em Mantenha o sistema)

domingo, 7 de novembro de 2010

Não nascemos para suportar a verdade ...

É porque somos todos impostores que nos suportamos uns aos outros. Quem não aceitasse mentir veria a terra fugir sob seus pés: estamos biologicamente obrigados ao falso. Não há herói moral que não seja ou pueril, ou ineficaz, ou inautêntico; pois a verdadeira autenticidade é o aviltamento na fraude, no decoro da adulação pública e da difamação secreta. Se nossos semelhantes pudessem constatar nossas opiniões sobre eles, o amor, a amizade, o devotamento seriam riscados para sempre dos dicionários; e se tivéssemos a coragem de olhar cara a cara as dúvidas que concebemos timidamente sobre nós mesmos, nenhum de nós proferiria um “eu” sem envergonhar-se. A dissimulação arrasta tudo o que vive, desde o troglodita até o cético. Como só o respeito das aparências nos separa dos cadáveres, precisar o fundo das coisas e dos seres é perecer; conformemo-nos a um nada mais agradável: nossa constituição só tolera uma certa dose de verdade…
(Emil Cioran)

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

O mal do mundo ...

O mal do mundo é que os sábios vivem cheios de dúvidas e os imbecis cheios de certezas.

( Bertrand Russell )

terça-feira, 2 de novembro de 2010

domingo, 31 de outubro de 2010

Estamos permanentemente em dúvida. O que escolher ? Aquilo que fede ou aquilo que mente ?

O pensamento é uma mentira, como o amor e a fé. Pois as verdades são fraudes e as paixões, odores; e, no final das contas, a escolha está entre o que mente e o que fede.

( Emil M. Cioran )

domingo, 24 de outubro de 2010

Devir ...

[...]
Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o deconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
[...]

( Álvaro de Campos, Fragmento de Tabacaria )

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Ao número que nada vale ...

Como não agradecer todos os dias o teu desprezo ?

( eu por eu mesmo )

sábado, 16 de outubro de 2010

O silêncio como expressão do que não pode ser dito ...

Ainda não foi inventada nenhuma linguagem melhor que o silêncio para tentar comunicar esta miséria que é o ser ...
( eu por eu mesmo )

domingo, 10 de outubro de 2010

As tulipas murchas não reflorescem mais.

Ninguém desvendará o Mistério.
Nunca saberemos o que se oculta por trás das aparências.
As nossas moradas são provisórias, menos aquela última.
Não vamos falar, toma o teu vinho.


O mundo gira, distraído dos cálculos dos sábios.
Renuncia à vaidade de contar os astros
e lembra-te: vais morrer, não sonharás mais,
e os vermes da terra cuidarão da tua carcaça.


Bebe o teu vinho. Vais dormir muito tempo
debaixo da terra, sem amigos, sem mulheres.
Confio-te um grande segredo:
As tulipas murchas não reflorescem mais.


Homem ingênuo, pensas que és sábio
e estás sufocado entre os dois infinitos
do passado e do futuro. Não podes sair.
Bebe, e esquece a tua impotência.


( Omar Khayyam )

sábado, 2 de outubro de 2010

O Sem Sentido da Vida

Nem todos se preocupam com a questão de saber se a vida tem sentido. Alguns - e esses não são os mais infelizes - têm a mente de uma criança, que ainda não questionou tais coisas; outros, tendo desaprendido a questão, já não as questionam. Entre ambos estamos nós próprios, aqueles que procuram. Não conseguimos projetar-nos de novo no nível do inocente, para quem a vida ainda não olhou com os seus olhos escuros e misteriosos, e não nos interessa juntarmo-nos aos saturados e fatigados que já não acreditam em qualquer sentido na existência por não terem conseguido encontrar qualquer sentido na sua própria vida.
Aquele que não conseguiu atingir o objetivo que procurava na sua juventude, e que não encontrou nada que o substituísse, pode lamentar a falta de sentido da sua própria vida, mas pode ainda acreditar que a existência em geral tem sentido e pensar que tal sentido está presente nos casos em que uma pessoa atingiu os seus objetivos. Mas aquele que, depois de muito esforço, conseguiu atingir os seus propósitos, e que depois descobriu que o seu prêmio não é tão valioso como parecia, de alguma maneira sente-se enganado - confronta-se abertamente com a questão do valor da vida e diante dele, como um solo sombrio e devastado, permanece o pensamento de que, para além de todas as coisas serem transitórias, em última análise tudo é em vão. . . .
( Moritz Schlick)

domingo, 19 de setembro de 2010

A grande questão do momento ...

Como evadir-me do sistema ?

(eu por eu mesmo)

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Sim ... é cansaço ...

Estou cansado.
Mas não trata-se um cansaço vulgar, daqueles que nos tomam no fim de todos os dias. Não é daquele tipo de cansaço que toma a maioria dos miséraveis que entregam suas horas de vigília inúteis por um punhado de moedas sem valor no fim do mês. Não é daqueles cansaços que depois de uma noite de sono são jogados no baú do esquecimento. Não é daqueles cansaços que uma mísera migalha de esperança os espanta. Sinto que se dormisse até o fim dos tempos e depois acordasse ainda se veria cansado. Sinto como que tivesse visitado uma a uma as sementes da vida e depois de abri-las todas, tivesse verificado que continham apenas enganos - nenhuma seria capaz de florescer. É um cansaço metafísico, tingido de espanto e de amargura. É o cansaço daquele que escrutinou todos os mecanismos da vida e ganhou em troca a tristeza da compreensão. É o cansaço daquele que também compreendeu demasiadamente bem a natureza humana e viu que há ali apenas engano, mentira, hipocrisia e vazio - muito vazio. Sim estou cansado ...
Mas talvez seja apenas cansaço ...


(eu por eu mesmo)

sábado, 4 de setembro de 2010

Da inutilidade do tentar conhecer ...

Nenhum conhecimento é possível ... E mesmo que fosse possível, não valeria a pena ...

(eu por eu mesmo)

domingo, 29 de agosto de 2010

A linguagem como ferramenta do engano ...

A multiplicidade dos discursos informativos, edificantes, persuasivos, entusiasmados ou curiosos, tem algo de nauseabundo. O homem é um animal ávido de crenças, de seguranças, de paliativos, e consegue tudo isso graças à linguagem. Mas suas crenças são frágeis, suas seguranças ilusórias, seus paliativos risíveis: por que não dizê-lo assim? Uma vez que, por azar ou improvável exercício, se conquistou a lucidez - a condição de inimizade às palavras - nada mais pode ser dito, exceto aquilo que revele o vazio da linguagem dos outros. Frente a isto, o discurso do cético é pleno, pois assume seu vazio como conteúdo, enquanto que os demais discursos, pretensamente cheios de substância, se edificam sobre a ignorância de seu vazio. Mas, que propósito pode ter proclamar a inanidade que se esconde por trás das palavras, salvo excluir ao cético a condição de enganado, de drogado pelo fumaça verbal; excluir-lhe da condição humana, em resumo? Acima ou abaixo dos homens, quem conhece a mentira das palavras e sua promessa nunca pode voltar a contar-se entre eles. Será uma rocha que não se ignora, uma árvore que se suspeita ou um deus consciente de que não existe: um homem, jamais!
( Fernando Savater a respeito de Cioran )

domingo, 15 de agosto de 2010

Num rosto vazio até um arranhão é um enfeite ...

"Muito mais tarde compreendi que os russos, em razao da indigência e da penúria de sua vida, em geral adoram distrair-se com a própria desgraça, brincam com ela como crianças e raramente se envergonham de ser infelizes.
Na monotonia interminável dos dias úteis, até a desgraça é um feriado, até um incêndio é uma distração; num rosto vazio até um arranhão é um enfeite ..."
( Gorki - Infância )

domingo, 8 de agosto de 2010

Um homem é o somatório de suas misérias ...

" ...ela não via que o pai estava nos ensinando que todos os homens não passam de acumulações, bonecos estofados com serragem varrida dos montes de lixo onde todos os bonecos anteriores eram jogados fora ..."
( O som e a fúria - William Faulkner )

domingo, 11 de julho de 2010

Cruzar os braços ou sacar a espada são gestos igualmente vãos ...

É difícil formular um juízo sobre a rebelião do menos filósofo dos anjos, sem mesclar nele simpatia, assombro e reprovação. A injustiça governa o universo. Tudo o que se constrói, tudo o que se desfaz, leva a impressão de uma fragilidade imunda, como se a matéria fosse o fruto de um escândalo no seio do nada. Cada ser se nutre da agonia de outro ser; os instantes se precipitam como vampiros sobre a anemia do tempo; o mundo é um receptáculo de soluços... Neste matadouro, cruzar os braços ou sacar a espada são gestos igualmente vãos. Nenhum soberbo desencadeamento saberia sacudir o espaço nem enobrecer as almas. Triunfos e fracassos se sucedem segundo uma lei ignorada que tem por nome destino, nome ao qual recorremos quando, filosoficamente desguarnecidos, nossa estância, aqui abaixo ou não importa onde, nos parece sem solução e como uma maldição que devemos sofrer irracional e imerecidamente. Destino: palavra seleta na terminologia dos vencidos... Ávidos de uma nomenclatura para o irremediável, buscamos um alívio na invenção verbal, nas claridades suspensas sobre os nossos desastres. As palavras são caritativas: sua frágil realidade nos engana e nos consola...

(Emil Cioran)

domingo, 4 de julho de 2010

O problema do mal ...

"Saber se o homem é livre exige saber se ele pode ter um amo. A absurdidade particular deste problema é que a própria noção que possibilita o problema da liberdade lhe retira, ao mesmo tempo, todo o seu sentido. Porque diante de Deus, mais que um problema da liberdade, há um problema do mal. A alternativa é conhecida: ou não somos livres e o responsável pelo mal é Deus todo-poderoso, ou somos livres e responsáveis, mas Deus não é todo-poderoso. Todas as sutilezas das escolas nada acrescentaram nem tiraram de decisivo a este paradoxo."
( Albert Camus )

terça-feira, 29 de junho de 2010

Sem a música a vida seria um erro ( maior ) ...

http://www.youtube.com/watch?v=QcuUIznpKuc

...

A Influência das Ilusões nas Nossas Vidas

Traçar o papel das ilusões na gênese das opiniões e das crenças seria refazer a história da humanidade. Da infância à morte, a ilusão envolve-nos. Só vivemos por ela e só a ela desejamos. Ilusões do amor, do ódio, da ambição, da glória, todas essas várias formas de uma felicidade incessantemente esperada, mantêm a nossa atividade. Elas iludem-nos sobre os nossos sentimentos e sobre os sentimentos alheios, velando-nos a dureza do destino. As ilusões intelectuais são relativamente raras; as ilusões afetivas são quotidianas. Crescem sempre porque persistimos em querer interpretar racionalmente sentimentos muitas vezes ainda envoltos nas trevas do inconsciente. A ilusão afetiva persuade, por vezes, que entes e coisas nos aprazem, quando, na realidade, nos são indiferentes. Faz também acreditar na perpetuidade de sentimentos que a evolução da nossa personalidade condena a desaparecer com a maior brevidade.
Todas essas ilusões fazem viver e aformoseiam a estrada que nos conduz ao eterno e inevitável abismo. Não lamentemos que tão raramente sejam submetidas à análise da razão. A razão só consegue dissolvê-las paralisando, ao mesmo tempo, importantes móbeis de ação. Para agir, cumpre não saber demasiado. A vida é repleta de ilusões necessárias. Os motivos para não querer multiplicam-se com as discussões das coisas do querer. Flutua-se então na incoerência e na hesitação. «Tudo ver e tudo compreender», escrevia Madame de Stael, «é uma grande razão de incerteza». Uma inteligência que possuísse o poder atribuído aos deuses de abranger, num golpe de vista, o presente e o futuro, a nada mais se interessaria e os seus móbeis de ação ficariam paralisados para sempre. Assim considerada, a ilusão aparece como o verdadeiro sustentáculo da existência dos indivíduos e dos povos, o único com o qual se possa sempre contar. Os livros de filosofia esquecem-no por vezes.

(Gustave Le Bon, em 'As Opiniões e as Crenças' )

sábado, 26 de junho de 2010

About love ( II )

E por outra parte, quem teria uma ilusão tão firme para encontrar em outro o que procurou de modo vão em si mesmo? «Um espasmo das entranhas nos dará o que o universo inteiro não soube oferecer-nos?»

( Emil Cioran )

domingo, 20 de junho de 2010

Ao vivo é muito pior ...

...

Não me peça que eu lhe faça
Uma canção como se deve
Correta, branca, suave
Muito limpa, muito leve
Sons, palavras, são navalhas
E eu não posso cantar como convém
Sem querer ferir ninguém...

Mas não se preocupe meu amigo
Com os horrores que eu lhe digo
Isso é somente uma canção
A vida realmente é diferente
Quer dizer!
A vida é muito pior...

...

( Belchior )

sábado, 19 de junho de 2010

Sobre as verdades da vida ...

  • Um pessimista é um homem que diz a verdade prematuramente.
  • As verdades consoladoras devem ser demonstradas duas vezes.
  • É raro que estejamos completamente inocentes dos nossos sofrimentos.
  • Como é preciso gostar de alguém para preferi-lo à sua ausência!
  • A vida desaloja-nos aos poucos de todos os lugares.
( Jean Rostand )

About love ...

Aqueles que falam das alegrias do amor, por certo, nunca amaram. Amar um ser é senti-lo necessário, portanto, sentirmo-nos nós próprios numa incessante precariedade.

( Jean Rostand )

domingo, 13 de junho de 2010

Toda compreensão é triste ...

Aquele que depois de ter compreendido não se sentiu um pouco mais triste não compreendeu nada.

( Inspiração ciorânica )

domingo, 23 de maio de 2010

O mundo foi feito para ser sentido e não para ser conhecido ...

Eis aí também as árvores e conheço suas rugas, eis a água e experimento-lhe o sabor. Esses perfumes de relva e estrelas, a noite, certas tardes em que o coração se descontrai, como eu negaria o mundo de que experimento o poder e as forças? Contudo, toda a ciência dessa terra não me dará nada que me possa garantir que este mundo é pára mim. Vocês o descrevem e me ensinam a classificá-lo. Vocês enumeram suas leis e, na minha sede de saber, concordo que elas sejam verdadeiras. Vocês desmontam seu mecanismo e minha esperança aumenta. Por último, vocês me ensinam que esse universo prestigioso e colorido se reduz ao átomo e que o próprio átomo se reduz ao elétron. Tudo isso é bom e espero que vocês continuem. Mas vocês me falam de um invisível sistema planetário em que os elétrons gravitam ao redor de um núcleo. Vocês me explicam esse mundo com uma imagem. Reconheço, então, que vocês enveredam pela poesia: nunca chegarei ao conhecimento. Tenho tempo para me indignar com isso? Vocês já mudaram de teoria. Assim, essa ciência que devia me ensinar tudo se limita à hipótese, essa lucidez se perde na metáfora, essa certeza se resolve como obra de arte. Para o que é que eu precisava de tantos esforços? As doces curvas dessas colinas e a mão da tarde sobre este coração agitado me ensinam muito mais. Compreendo que se posso, com a ciência, me apoderar dos fenômenos e enumerá-los, não posso da mesma forma apreender o mundo. Quando tiver seguido com o dedo todo o seu relevo, não saberei nada, além disso. E vocês me levam a escolher entre uma descrição que é certa, mas que não me informa nada, e hipóteses que pretendem me ensinar, mas que não são certas. Estranho diante de mim mesmo e diante desse mundo, armado de todo o apoio de um pensamento que nega a si mesmo a cada vez que afirma, qual é essa condição em que só posso ter paz com a recusa de saber e de viver, em que o desejo da conquista se choca com os muros que desafiam seus assaltos? Querer é suscitar os paradoxos. Tudo é organizado para que comece a existir essa paz envenenada que nos dão a negligência, o sono do coração ou as renúncias mortais.
( Abert Camus )

domingo, 16 de maio de 2010

O coração espera sempre ...

Os homens dizem «tudo passa», mas quantos captam o alcance desta aterradora banalidade? Quantos fogem da vida, a cantam ou a choram? Quem não está imbuído da convicção de que tudo é vão? Mas quem ousa afrontar suas conseqüências? O homem com vocação metafísica é mais raro que um monstro e no entanto, cada homem contém virtualmente os elementos dessa vocação. Bastou a um príncipe indiano ver um inválido, um velho e um morto para compreender tudo; nós que também os vemos não compreendemos nada, pois nada muda em nossa vida. Não podemos renunciar a coisa nenhuma; contudo, as evidências da vaidade estão ao nosso alcance. Enfermos da esperança, esperamos sempre; e a vida é apenas uma espera hipostasiada. Esperamos tudo, inclusive o nada, antes de ser reduzidos a uma suspensão eterna, a uma condição de divindade neutra ou de cadáver. Assim, o coração que se formou num axioma do Irreparável, espera todavia surpresas. A humanidade vive amorosamente nos sucessos que a negam...
( Emil Cioran )

domingo, 2 de maio de 2010

Todos serão sorteados ...

A vida é um jogo monótono que dá dois prêmios:
A Dor e a Morte.
Feliz a criança que expirou ao nascer;
mais feliz quem não veio ao mundo.


(Omar Khayyam)

quarta-feira, 21 de abril de 2010

O homem revoltado ...

"A revolta nasce do espetáculo da desrazão diante de uma condição injusta e incompreensível".

( Albert Camus )

sábado, 10 de abril de 2010

O Paradoxo da Verdade


O homem deseja e odeia a verdade. Quer mentir aos outros - quer que o enganem, prefere a ficção à realidade, mas por outro lado receia o engano, quer o fundo das coisas, o verdadeiro verdadeiro. Somente a razão conduz à verdade. Mas só os fanáticos, os visionários e os iluminados fazem as coisas grandiosas, as mudanças, as descobertas. A verdade, de tanto se tornar necessária, conduz à secura, à dúvida, à inércia - à morte. É muito natural que os homens odeiem aqueles que dizem ou tentam dizer a verdade. A verdade é triste - mas, com maior freqüência, é horrível, temível, anti-social. Ela destrói as ilusões, os afetos. Os homens defendem-se como podem. Isto é, defendem a sua pequena vida, apenas suportável à força de compromissos, de embustes e de ficções. Não querem sofrer, não querem ser heróis. Rejeitam o heroísmo em função da mentira.

( Giovanni Papini, em 'Relatório Sobre os Homens')

domingo, 4 de abril de 2010

A Criação ...

Uma piada que não deu certo. Era para ser comédia ... Virou tragédia ...

( eu por eu mesmo )

domingo, 28 de março de 2010

A Memória é o Maior Tormento do Homem

Considera o rebanho que passa ao teu lado pastando: ele não sabe o que é ontem e o que é hoje; ele saltita de lá para cá, come, descansa, digere, saltita de novo; e assim de manhã até a noite, dia após dia; ligado de maneira fugaz por isto, nem melancólico nem enfadado. Ver isto desgosta duramente o homem porque ele vangloria-se da sua humanidade frente ao animal, embora olhe invejoso para a sua felicidade - pois o homem quer apenas isso, viver como animal, sem melancolia, sem dor; e o que quer entretanto em vão, porque não quer como o animal. O homem pergunta mesmo um dia ao animal: por que não falas sobre a tua felicidade e apenas me observas?
O animal quer também responder e falar, isso deve-se ao fato de que sempre se esquece do que queria dizer, mas também já esqueceu esta resposta e silencia: de tal modo que o homem se admira disso. Todavia, o homem também se admira de si mesmo por não poder aprender a esquecer e por sempre se ver novamente preso ao que passou: por mais longe e rápido que ele corra, a corrente corre junto. É um milagre: o instante em um átimo está aí, em um átimo já passou, antes um nada, depois um nada, retorna entretanto ainda como um fantasma e perturba a tranquilidade de um instante posterior. Incessantemente uma folha se destaca da roldana do tempo, cai e é carregada pelo vento - e, de repente, é trazida de volta ao colo do homem. Então, o homem diz:«eu lembro-me», e inveja o animal que imediatamente esquece e vê todo o instante realmente morrer imerso em névoa e noite e extinguir-se para sempre. Assim, o animal vive a-historicamente: ele passa pelo presente como um número, sem que reste uma estranha quebra.

(Friedrich Nietzsche)

domingo, 21 de março de 2010

Mas isso nada adianta ...

A saudade que em mim desperta o jogo das letras prova como isto foi parte integrante de minha infância. O que busco nele na verdade, é ela mesma: a infância por inteiro, tal qual sabia manipular a mão que empurrava as letras no filete, onde se ordenavam como uma palavra. A mão pode ainda sonhar com essa manipulação, mas nunca mais poderá despertar para realizá-la de fato. Assim, posso sonhar como no passado aprendi a andar. Mas isso nada adianta. Hoje sei andar; porém, nunca mais poderei tornar a aprendêlo.
(Walter Benjamin)

sexta-feira, 19 de março de 2010

O Anjo que observa a história ...

“Há um quadro de Klee chamado Angelus Novus. Representa um anjo que parece a ponto de afastar-se para longe daquilo a que está olhando fixamente. Seus olhos estão arregalados, sua boca aberta, suas asas estendidas. O anjo da história deve ter este aspecto. Seu rosto está voltado para o passado. Onde diante de nós aparece um encadeamento de acontecimentos, ele vê uma catástrofe única, que vai empilhando incessantemente escombros sobre escombros, lançando-os diante de seus pés. O anjo bem que gostaria de se deter, despertar os mortos e recompor o que fora feito em pedaços. Mas uma tempestade sopra do Paraíso e se prende em suas asas com tal força, que o anjo já não as pode fechar. A tempestade irresistivelmente o impele ao futuro, para o qual ele dá as costas, enquanto o monte de escombros cresce até o céu diante dele. O que chamamos de Progresso é esta tempestade.”

(Walter Benjamim)

sexta-feira, 12 de março de 2010

O cérebro ...

A máquina do engano.

( eu por eu mesmo )

terça-feira, 9 de março de 2010

Provocações ...

«O que você espera encontrar depois da morte além de um silencioso e eterno nada ?»

(Abujamra no seu programa de TV)

terça-feira, 2 de março de 2010

Da série : É 1000 ...

Para iniciar-se na tristeza, no artesanato do Indefinido, alguns tardam um segundo, outros uma vida.
( Emil Cioran )

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Da série : Coisas qua a vida me ensinou ...

De quanto mal-entendido se compõe a nossa compreensão do mundo !
Quantas coisas eu sinto sem que existam ... Quantas coisas existem sem que eu as sinta ...

(eu por eu mesmo)

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

A vida que a gente leva ...

A vida é apenas aquilo que poderia ser mas não é.

(eu por eu mesmo)

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Sofrimento e realidade ...

Sofremos: o mundo exterior começa a existir...;
Sofremos demasiado: desaparece.
A dor o suscita unicamente para desmascarar sua ausência de realidade.
( Emil Cioran )

domingo, 7 de fevereiro de 2010

A nossa solidão de cada dia ...

Nada é tão nosso quanto a nossa solidão. Por isso, saibamos usá-la como uma espécie de treinamento para a GRANDE SOLIDÃO que nos espera no fim de tudo ...
( eu por eu mesmo)

domingo, 31 de janeiro de 2010

Pensamentos ao acaso ( 1 )

«Só um amor nunca acaba: aquele que nunca começou.»

( eu por eu mesmo )

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

O difícil ...

O difícil é que nas minhas discussões com Deus, Ele não se cansa ... E eu já estou exausto ...

(eu por eu mesmo)