domingo, 29 de agosto de 2010

A linguagem como ferramenta do engano ...

A multiplicidade dos discursos informativos, edificantes, persuasivos, entusiasmados ou curiosos, tem algo de nauseabundo. O homem é um animal ávido de crenças, de seguranças, de paliativos, e consegue tudo isso graças à linguagem. Mas suas crenças são frágeis, suas seguranças ilusórias, seus paliativos risíveis: por que não dizê-lo assim? Uma vez que, por azar ou improvável exercício, se conquistou a lucidez - a condição de inimizade às palavras - nada mais pode ser dito, exceto aquilo que revele o vazio da linguagem dos outros. Frente a isto, o discurso do cético é pleno, pois assume seu vazio como conteúdo, enquanto que os demais discursos, pretensamente cheios de substância, se edificam sobre a ignorância de seu vazio. Mas, que propósito pode ter proclamar a inanidade que se esconde por trás das palavras, salvo excluir ao cético a condição de enganado, de drogado pelo fumaça verbal; excluir-lhe da condição humana, em resumo? Acima ou abaixo dos homens, quem conhece a mentira das palavras e sua promessa nunca pode voltar a contar-se entre eles. Será uma rocha que não se ignora, uma árvore que se suspeita ou um deus consciente de que não existe: um homem, jamais!
( Fernando Savater a respeito de Cioran )

domingo, 15 de agosto de 2010

Num rosto vazio até um arranhão é um enfeite ...

"Muito mais tarde compreendi que os russos, em razao da indigência e da penúria de sua vida, em geral adoram distrair-se com a própria desgraça, brincam com ela como crianças e raramente se envergonham de ser infelizes.
Na monotonia interminável dos dias úteis, até a desgraça é um feriado, até um incêndio é uma distração; num rosto vazio até um arranhão é um enfeite ..."
( Gorki - Infância )

domingo, 8 de agosto de 2010

Um homem é o somatório de suas misérias ...

" ...ela não via que o pai estava nos ensinando que todos os homens não passam de acumulações, bonecos estofados com serragem varrida dos montes de lixo onde todos os bonecos anteriores eram jogados fora ..."
( O som e a fúria - William Faulkner )