terça-feira, 30 de junho de 2009

O destino é uma questão humana, que deve ser resolvida entre os homens.

A sabedoria antiga confirma o heroísmo moderno. Não se descobre o absurdo sem ser tentado a escrever um manual sobre a felicidade. [...] Felicidade e absurdo são dois filhos da mesma Terra. Eles são inseparáveis. Seria um erro dizer que a felicidade nasce necessariamente do descobrimento do absurdo. O mesmo quanto ao sentimento do absurdo nascer da felicidade. "Eu concluo que está tudo bem", diz Édipo, e esta observação é sagrada. Ela ecoa no universo selvagem e limitado do homem. Ela ensina que tudo não foi e nem está esgotado. Ela expulsa deste mundo um deus que veio a ele com descontentamento e com uma preferência pelo sofrimento inútil. Ela faz do destino uma questão humana, que deve ser resolvida entre os homens. Toda a alegria silenciosa de Sísifo está contida nisto. Seu destino pertence a ele. Sua rocha é algo semelhante ao homem absurdo quando contempla seu tormento; silencia todos os ídolos. No universo subitamente devolvido ao seu silêncio as pequenas vozes extremamente fascinantes do mundo elevam-se. A inconsciência, os chamados secretos, os convites de todos os aspectos, eles são o reverso necessário e o preço da vitória. Não há sol sem sombra, e é essencial conhecer a noite.

( Albert Camus, O mito de Sísifo )

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