quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

A Miséria do Divertimento ...

Se o homem fosse feliz, sê-lo-ia sem apelar ao divertimento e seria tão mais feliz quanto menos divertido fosse, como os Santos e Deus. - Sim!; mas não sendo feliz pode animar-se pelo divertimento? - Não!; porque o divertimento vem de outro lugar; ele vem de fora de nós mesmos e assim é dependente e, portanto, sujeito a ser perturbado por mil acidentes que tornam as aflições inevitáveis. (...) A única coisa que nos consola das nossas misérias é o divertimento, e contudo ele é a maior das nossas misérias. Porque ele nos impede principalmente de pensar em nós, e com isto nos abandona na insensibilidade. Sem ele, estaríamos no tédio, e este tédio levar-nos-ia a procurar um meio mais sólido de sair dele... Mas o divertimento distrai-nos e faz-nos chegar insensivelmente à morte.

( Blaise Pascal, em "Pensamentos" )