quinta-feira, 3 de julho de 2014

Cioran e o pescoço do Neymar ...



Os homens dizem «tudo passa», mas quantos captam o alcance desta aterradora banalidade? Quantos fogem da vida, a cantam ou a choram? Quem não está imbuído da convicção de que tudo é vão? Mas quem ousa afrontar suas conseqüências? O homem com vocação metafísica é mais raro que um monstro e no entanto, cada homem contém virtualmente os elementos dessa vocação. Bastou a um príncipe indiano ver um inválido, um velho e um morto para compreender tudo; nós que também os vemos não compreendemos nada, pois nada muda em nossa vida. Não podemos renunciar a coisa nenhuma; contudo, as evidências da vaidade estão ao nosso alcance. Enfermos da esperança, esperamos sempre; e a vida é apenas uma espera hipostasiada. Esperamos tudo, inclusive o nada, antes de ser reduzidos a uma suspensão eterna, a uma condição de divindade neutra ou de cadáver. Assim, o coração que se formou num axioma do Irreparável, espera todavia surpresas. A humanidade vive amorosamente nos sucessos que a negam...

(Emil Cioran)

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