sexta-feira, 15 de março de 2013

O capitalismo é parasitário ...

Assim como todos os organismos chamados de parasitas, o capitalismo tem a tendência de se alimentar de seu hospedeiro até a exaustão. Depois, passa para a próxima terra virgem, onde recomeça o processo: no primeiro momento, o novo espaço recebe enormes investimentos, que geram rentabilidade. Depois, seguindo a chamada lei dos rendimentos decrescentes, o retorno vai diminuindo e exige um novo aporte de capital. Como este novo gasto não traz lucro, entram em ação outras forças para dar suporte financeiro, em geral poderes políticos que recorrem à coerção dos impostos. Esta medida apenas adia o colapso, até que uma nova terra virgem seja encontrada. E assim o capitalismo caminha, em uma sucessão de crises e breves períodos de prosperidade.
A mais recente crise financeira é um exemplo clássico desse processo. Há cerca de 50 anos, um vasto território foi descoberto e explorado por uma combinação de duas estratégias: a criação do impulso de comprar objetos que não são necessários e o deslocamento do lucro, que sai da produção e passa para o consumo dos bens. Assim, o consumidor passou a ser a fonte principal da lucratividade. Ele agora é mais importante como comprador do que como trabalhador.
Historicamente, os governos lutam para preservar o capitalismo das consequências de sua própria lógica. Na antiga sociedade dos produtores, onde os lucros eram gerados nos assoalhos da fábrica, os capitalistas tinham recursos para comprar a mão de obra. Hoje, em nossa sociedade de consumidores, a exigência é que sejam os consumidores os responsáveis por pagar o preço dos produtos, e com isso prever o fluxo de lucros.
Sou um sociólogo, não um profeta. O que eu posso dizer é o seguinte: primeiro, a economia baseada no crescimento do consumo tem limites demarcados pela resistência do planeta e de seus recursos (se o consumo da humanidade alcançar os níveis dos Estados Unidos, precisaríamos de cinco planetas). Segundo, o capitalismo permanece como um sistema mestre não só da arte de espremer as terras virgens até a última gota, mas também na arte de substituir o que já foi usado por novidades. Assim, a única previsão que ouso sugerir é que encontraremos pela frente uma crise levando a outra, podendo gerar a catástrofe do planeta ou até de nós mesmos. Ou então isso pode ser mudado pela nossa recusa de participar do jogo pelas regras atuais.

( Zygmunt Bauman )

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