segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Renunciar à sede de poder : o excesso de cansaço pode suscitar cenas tão admiráveis quanto o excesso de coragem ...

Quem não conheceu a tentação de ser o primeiro na cidade nada compreenderá do jogo político, da vontade de submeter os outros para deles fazer objetos, nem adivinhará os elementos de que é composta a arte do desprezo. A sede de poder - raros são os que não a tenham num grau ou noutro experimentado - é-nos natural, e contudo, se a considerarmos melhor, assume todos os aspectos de um estado mórbido do qual apenas nos curamos por acidente ou então por meio de um amadurecimento interior, parecido com o que se operou em Carlos V quando, ao abdicar em Bruxelas, no topo da sua glória, ensinou ao mundo que o excesso de cansaço podia suscitar cenas tão admiráveis quanto o excesso de coragem. Mas, anomalia ou maravilha, a renúncia, desafio às nossas contantes, à nossa identidade, sobrevém somente em momentos excepcionais, caso limite que satisfaz o filósofo e perturba profundamente o historiador.

(Emil Cioran)

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