terça-feira, 22 de novembro de 2011

Filosofia e prostituição ...

O filósofo, de volta dos sistemas e das superstições, mas perseverante ainda nos caminhos do mundo, deveria imitar o pirronismo de calçada do qual faz gala a criatura menos dogmática: a mulher pública. Desprendida de tudo e aberta a tudo; compartilhando o humor e as idéias do cliente; trocando de tom e de semblante a cada ocasião; disposta a ser triste, alegre ou mesmo permanecendo indiferente; dando suspiros por interesse comercial; lançando sobre os esforços de sua vizinha um olhar lúcido e falso, propõe ao espírito um modelo de comportamento que rivaliza com o dos sábios. Carecer de convicções com respeito aos homens e a si mesmo: este é o elevado ensinamento da prostituição, academia ambulante de lucidez, à margem da sociedade, como a filosofia. «Tudo o que sei, aprendi na escola das putas», deveria exclamar o pensador que aceita tudo e nega tudo; quando, a exemplo seu, se especializou no sorriso fatigada; quando os homens não são para ele senão clientes, e as calçadas do mundo, o mercado onde vende sua amargura, como suas companheiras o seu corpo.

(Emil Cioran)

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