quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Não está na nossa mão o não amar, nem também o amar ...

É propriedade do amor o ser violento; e é propriedade da violência o não durar. O amor acaba-se em nós, não por nossa vontade, mas porque tem por natureza o acabar. E ainda que tudo há-de acabar connosco, nem tudo espera por nós. Quando amamos, é por força, porque a formosura que nos inclina, nos vence. E também é por força quando não amamos; porque uma vez rotos os laços, ficamos de tal sorte livres, que ainda que queiramos, não podemos tornar a eles. E assim não está na nossa mão o não amar, nem também o amar. O coração por si mesmo se acende, e entibia. Nós não o podemos inflamar, nem extinguir-lhe o ardor.

( Matias Aires, em 'Reflexões Sobre a Vaidade dos Homens e Carta Sobre a Fortuna' )

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